"Entre dois Mundos"

"Entre dois Mundos"

domingo, 23 de novembro de 2014

MEMÓRIAS - O AMOR HÁ DE VENCER!

Volta ao corpo, relutantemente. Não quer acordar.  Não quer se levantar da cama. Sabe exatamente o que lhe espera. Tem medo.

Medo de voltar viver para servir e não servir para viver. Ele, seu filho, está retornando ao lar e, apesar do grande amor que tem em seu peito por ele, ela o teme, pois ele não a enxerga com os olhos do coração. Para ele, ela é tão somente um fantasma. Um ser que perambula pela casa, sempre ao seu dispor.



Ela está com medo de seu retorno. Sempre que de lá - daquele que os abandonara quando ele ainda contava 7 anos -  retorna, traz consigo o mal e, contra o mal, ela tem de recomeçar a lutar, por mais uma semana.

Ela o ama, mas quem disse que o amor não dói, não cansa, não adoece? Ela toma suas pílulas para tentar sumir por uma ou duas horas, mas já não surtem o mesmo efeito de outrora. Não há mais como escapar da vida gelada que ele a faz viver. 


Não. Não é culpa dele. Ele também sofre em seu mundinho. Sofre calado e não pede ajuda.


Ela o vê sofrendo e, desesperada, entrega-se ao seu sofrimento, mas, por ele, é rejeitada com um olhar. Somente com um olhar frio, distante, desolador. Ela morre novamente, em mais um dia de vida.


Gostaria de gritar, berrar, mas não há quem a ouça. Todos se foram. Os bons, os maus. Todos se foram.



Dois náufragos, doentes, embalados pelas ondas de um mar bravio, onde ela tenta amenizar a dor de seu amor, enquanto ele lhe fecha as portas de seu coração que ainda não fora tocado por Ele. 


Estão sozinhos. De lá, ela nada avista. Nada.
Ele a reconhece doente. Tenta, ao seu modo, ajudá-la. Para isso, é preciso que ela lhe implore ajuda. Perca seu pouco controle emocional. Para ela, isso é extremamente cansativo, doloroso. Querer que um surdo a ouça.


Lobos em pele de cordeiro o acariciam nesse momento. Ele já não é tão inocente assim. Entende tudo, mas, ainda assim, prefere jogar o peso de sua dor, em forma de raiva, naquela que lhe serve do que naqueles que lhe não enxergam.


Ela está no fim. Ele não consegue ver isso. Ela não quer que ele saiba que seus dias estão contados.


Ela se agarra aos seus únicos amigos - os espirituais - que a puseram em um lugar onde "eles - a legião" não a alcançam mais. Não a utilizam mais. Ela será eternamente grata por isso. 


"Eles - os que vem da Luz" indicam o Caminho. Ela procura forças para seguí-los, mas, faltam-lhe fôlego, vontade, vida.


Tudo isso porque os náufragos - doentes - veem demais, sentem demais, sofrem demais. Calam-se demais.


Ela descobrira a causa de  não se adaptar a esse mundo. Ele é cinza demais. Não há cor. Logo, a tristeza reina e lhe tira as forças para seguir adiante.



Tenta entender o porquê de ter sido esquecida por aqueles que diziam amá-la, aqui na Terra. Porém, seus únicos amigos - os Espíritos - sussurram em seus ouvidos: "Não tente entender. Apenas siga. Confie."

As pílulas estão findando. Ela ainda as toma graças à caridade de pessoas bondosas que, de uma forma ou de outra, conseguem o remédio que não haverá de curá-la, pois já se acostumara às altas doses da substância contida nele. 


Caso queira aumentar, por conta própria, a dosagem, poderá acordar em um lugar mais cinza do que a Terra.  Isso, ela não o fará jamais. É absolutamente contra a ideia de tirar o dom precioso que é o da vida, ainda que não a viva.


Ela está com medo de sua volta. Apesar de seu grande amor por ele, tem medo de sua frieza que tem dilacerado seu coração em quase todos os dias, nesses últimos 6 anos. 


Quisera voltar atrás e consertar tudo o que fizera de errado. Mas isso é impossível.


Faltam poucas horas para que ele volte ao lar e ela está com medo. 


Ele abre a porta da sala. Seu coração gela e, em prece, imagina uma luz, branca, puríssima, ao redor do homem que mais ama no mundo. 
Pai, fazei com que nossas vidas sejam mais coloridas e felizes. Eu imploro...por ele. Amém!

11h45 - 23/11/2014




domingo, 12 de outubro de 2014

Il Divo - A mi manera (Letra)

AMOR. O QUE SERIA ISSO?

Disseram-lhe, sussurrando em seu ouvido: "Tua doença não tem cura. Estás condenada a morrer por ela, com ela".

Como se ela já não soubesse disso há tempos...

Na aldeia onde vivia, era tida como louca. Uma louca alegre, mas, uma louca. Por quê? Não conseguira entender. Todos os dias, apesar da imensa, gigantesca vontade de não mais viver, acordava, trabalhava nos campos, cuidava de seu filho que passara a ser sua única fonte de vida. Seu único objetivo para permanecer viva.

Não se mataria, mas, sentia que aquela doença estaria a lhe corroer o que havia dentro de si. Não conseguiria fingir felicidade por mais tempo. Em breve, todos saberiam...todos enxergariam - por mais que ela não o desejasse - seu lado sombrio, triste, feio.

Perdera a família. Seus pais haviam morrido. Aqueles que tanto amara, tendo-os como sua segunda família, afastaram-se dela, por um motivo que desconhecia, deixando-a ainda mais triste.

Teriam eles acreditado em alguma maledicência do "Tirano Lascivo"? Não poderia crer nessa alternativa. Eles sempre foram tão lúcidos, tão bons. Mas, foram-se também.

Desde que reencontrara o "Senhor das Armas", conhecera o Inferno em vida. Um outro inferno, diferente daquelas que conhecera desde tenra idade.

Ele a afastara de todos. Ele disseminara a dor e a doença por onde passara e, estando ao seu lado, ela adoecera, vendo seu filho - o Homem que mais ama  no mundo - adoecer junto a ela. "O Senhor das Armas" a fizera "abrir portais" que jaziam fechados. Por aqueles portais, passaram almas perdidas, infelizes. Passaram magos terríveis que souberam adoecê-la ainda mais. 

Por sua fé, por seu grande amor pelo filho, a moça fora salva do "Senhor das Armas" que se afastara dela, deixando-a em pedaços, no chão frio daquelas estradas feitas de pedrinhas  minúsculas que machucaram - e muito - seus pés ainda sensíveis à dor.

Sofrera com o sofrimento "daquele que mais ama no mundo". Sofrera com seus insultos, com sua frieza, oriundos da doença - maldita doença - que talvez tivesse herdado da moça - triste moça - que jamais conhecera o amor. A doçura de um abraço sem intenções indignas. Pobre moça que jamais tivera um amigo com quem pudesse conversar e amenizar o caos que se fizera em sua alma.

Lutando muito, conseguira, com a ajuda dos curandeiros de aldeia vizinha, remédios que curariam "aquele que mais ama no mundo".

Agora, ele consegue sorrir. Consegue olhar para ela com um olhar de piedade...quase amor.

Ela chora e agradece por esse olhar. Afinal, se permanecera ereta, fora somente por ele. Somente por aguardar aquele olhar.

Permaneceria erguida, ainda que outros tombos a derrubassem, ainda que outras tempestades a envergassem, por aquele olhar. Pela felicidade daquele menino doce, cheio de luz, que desconhecia seu próprio potencial.

Haveria de mostrar a ele que o Amor existe! Que a Felicidade existe!  Que ele, seu grande Amor, conheceria, a seu tempo, tais sentimentos. 

A vida da moça e de seus antepassados não serviriam de exemplos para aquele menino doce que - agora - após anos de escuridão e dor, começa a sorrir. 

A moça - que já não está tão moça assim - procura, em vão, a cura. Mas, reconhece ser tarde demais.

A moça com o coração pisado e cheio de cicatrizes, algumas ainda abertas, pede ao Grande Pai que a deixe ver "aquele que tanto ama" encontrar Amigos e um Amor verdadeiro. Encontrar a Paz e o Caminho, a fim de que ela possa partir para outros mundos.

A moça, apesar de cansada, permanece corajosa e valente. Não teme o que há do "outro lado", por conviver com "eles", nesse mundo, desde que nascera.
A música fora e continua sendo um de seus remédios favoritos. A Música empresta-lhe forças para continuar seguindo em frente, ao lado "daquele que mais ama no mundo".
A moça, após longos anos de tormenta, alegra-se em ver seu filho ao lado de seu grande amor. Enfim , ele amava e era amado. Como ela, a moça, havia lhe prometido.

A moça, já bem menos moça, carrega um sorriso no rosto, esperança no olhar, e um vazio imenso no coração. Ainda não conhecera o Amor.
12/10/2014 - 10h28m