"Entre dois Mundos"

"Entre dois Mundos"

domingo, 19 de janeiro de 2014

Journey-Dont Stop Believing

Dezesseis!

Ele é meu filho! 

O mesmo gosto musical apurado. O mesmo jeitinho de se alienar do mundo quando preciso. A mesma força - ainda que demonstrada de maneira simetricamente oposta à minha - de enfrentar as tempestades da vida.

Ele é terra. Eu sou água. Ele é pura razão. Sou pura emoção.

Existe um jeito desses elementos tão distintos e tão necessitados um do outro, se encontrarem e vivenciarem experiências unidos?

Sim. Ele seca minhas lágrimas. E adubo a secura - ainda que aparente - de seu coraçãozinho dolorido e esperançoso, à procura de alegria, tão escassa nos dias de hoje.

Descobrira, durante semana passada, entre três crises (fortes crises silenciosas) diagnosticadas clinicamente como Transtorno de Ansiedade Generalizada que já não tenho uma criança dentro de casa. Aqui, comigo, habita um homem forte e sensível que se sente responsável por meu bem-estar. Que se sente culpado pela doença que trago em meu cérebro, em minh'alma.

Um homem que soubera ficar ao meu lado quando, em prantos, jogada ao chão, com a cabeça em suas pernas, perguntara-lhe, quase que sem poder respirar de tanto chorar:

"Você me ama, filho?"
"Claro, mãe. Eu não quero perder você."
"Reze por mim, filho. Você é mais puro do que eu. Ele haverá de te ouvir melhor".
"Não. Eu não rezo mais. Há muito tempo não rezo, mãe. Como acreditar em um Deus que te deixa nesse estado?"

(...)

Como te fazer crer Nele se não O enxergas ainda com teus próprios olhos? Como te dar esperanças em dias melhores se tu não crês Naquele que nos dera a vida? Como não me desesperar diante de tua falta de fé em algo ou em algum ser?

(...)

O mundo parecera-me menor durante a semana passada. O ar faltara-me nos pulmões por muitas vezes. O desespero assolara meu peito, fazendo-o doer...doer muito. E por tudo passara sozinha e silenciosamente. 

Nesse mundo, a Depressão fora rotulada como frescura, falta de fé, fraqueza. Não se compara, segundo os insensíveis e sem cultura, à diabete (ou diabetes) ou à hipertensão. Não. Estas são doenças de pessoas normais. Aquelas, de pessoas fracas e que "curtem" a tristeza.

Graças a Deus, os cientistas nos trouxeram de volta a esperança e a dignidade...

Graças ao meu filho - e ao meu imenso amor por ele - ainda insisto.

"Do que você precisa, mãe" perguntara-me em desespero.
"De um abraço. De carinho, filho"

Em um amplexo, tivera a cura, por segundos, do mal que ora abrigo. Quisera que aquele momento se eternizasse...

Aquele menino que um dia fuzilara-me com olhos de ódio por proibí-lo, por puní-lo, por cumprir as funções de pai e mãe, hoje, olham-me com um misto de carinho e compaixão. Trata-me como uma criança a acariciar meus cabelos: "Que bonitinha!"

(...)

Feliz? Ainda não o sou. Alegre? Quase. Grata a Deus? Sempre!

Hoje, falo com mais doçura com meu filho. Sinto que sou a causa de sua tristeza. Sei que serei a cura de seu mal.

Filho, se pudesse dar-te um presente, dar-te-ia amigos sinceros que estariam sempre ao teu lado, rindo, à beira do mar.

Dar-te-ia a liberdade de morar ao lado de quem você mais ama, desde que eu tivesse a certeza de que seria tão bem cuidado quanto o és por mim, mas não a tenho, logo, morro de medo pelo teu futuro.

Perdão, filho, pelas palavras amargas que jogara em teu rostinho. É que não suporto ver-te triste. Assistir, sem nada poder fazer, sua Luz apagar-se aos poucos.

Perdão meu filho! Todos os erros que cometera fora por te amar demais.

Não tenho vida sem ti. E eu sei que estou errada...

Filho, sabes bem que faria e faço qualquer coisa por tua felicidade.

Tu me ensinaras a ter força de vontade, coragem, perseverança.  

Tu te agigantastes durante o ano passado, vencendo os leões!

Quisera ter a terça parte de tua força, filho meu.

Tu és um vencedor! Vencestes a ti mesmo! Orgulho-me de ti!

Estarei sempre...sempre ao teu lado. Laços Eternos jamais serão rompidos.

Que aos dezesseis possamos sorrir mais como quando estávamos assistindo àquele programa que tu tanto gostas, lembras? Rolávamos de rir! 

(...)

Feliz Dezesseis!

19/01/2014 - 14h45m

Il Divo - Adagio

Eu te ouço.

Queria que tu o soubesses, Mandy. Eu te ouço. 

Ouço teus apelos para que eu ajude aquele a quem dedicara todo teu amor maternal. Aquele amor que faltara aos teus filhos paridos por ti, tu o dedicaras de maneira incondicional a ele. 

Dessa forma, redimira-se de tua ausência em nossa infância, adolescência e juventude.

Mandy, ouvira teu apelo. Suponho que, de onde estejas, não consigas ver exatamente o que aqui acontece, mas o pressentes. Ouves o choro, a revolta de "teu filho". Ouves as blasfêmias ditas por ele contra o Pai, pois, como encontrar o Pai no Inferno?

Só os que já O conheceram e O sentiram em algum momento de suas vidas podem, na efervescência da adolescência - entre as lavas que escorrem das rochas escorregadias do abismo - suportar a extrema dor que é conviver com o Mal, personificado: teu marido. Meu pai. Seu avô.

Mandy, finalmente ela acordara. Finalmente, ela o vira com os meus olhos. O Tirano ainda vive. Mais letal, mais fétido, mais cruel do que outrora. 

Por não conhecer a saúde física - de tanto desgastar seu corpo com atos e pensamentos impuros - tenta atingir aqueles que a possuem com palavras amargas, impregnadas de inveja, ódio.

Por não conhecer a inocência e o viço da juventude, ataca-os de maneira hostil. 

Eu sei. É com isso que te preocupas, Mandy. Tu me pediras: "Cuida do meu filho! Cuida do meu filho!".

Agora, somos duas aqui na Terra, Mandy. Acalma-te. Ela acordara.

Tu me fizestes enxergar um futuro desolador...terrível. Um quadro dantesco que eu  fizera questão de mostrá-lo àquela que pariu "teu filho", Mandy. Ela acordara.

Viver no Inferno desnorteia qualquer um. Tu o sabes melhor do que ninguém, Mandy querida.

Acalma-te! Custe o que custar, "teu filho" não cometerá nenhum desatino, ainda que mãos invisíveis o empurre para um desfecho infeliz.

Tu fostes ouvida, Mandy. Acalma-te. Cura-te. Estamos "acordadas" agora. Acalma-te...

Haja o que houver, o Tirano não alcançará seu sórdido objetivo. Eu te asseguro, Mandy.

Não chores mais. Deixa que teus amigos, que te cercam onde te encontras agora,  cuidem de ti. Precisamos de tua ajuda. Porém, para que nos ajude, é preciso que tu estejas bem. Não chores mais, Mandy. Teu choro dói em mim, aqui na Terra.

Aquilo não acontecerá. "Teu filho" terá um futuro brilhante, assim como o meu filho também o terá, bem longe do inferno onde ora habita.

Creia-me, Mandy. Creia-me!

Fica em Paz, Mandy.

Te amo.
19/01/2014 - 12h36m