"Entre dois Mundos"

"Entre dois Mundos"

domingo, 9 de agosto de 2015

Diário de uma menina adotada

Julliete vibrara diante daquele casal que viera buscá-la. "Enfim, terei pais a quem amar...que me amarão. Uma casa, irmãos, amigos, um cão!". Era pura alegria, a menina que contava apenas 8 anos de idade.

Lembrara de ver nas feições daquela mulher uma dor contida. Nas feições do homem, um olhar estranho cujos sentimentos não soubera decifrar, àquela época.

Em casa, não recebera um cãozinho. Não recebera os irmãos. Não recebera um abraço daquele homem. Somente o aconchego da mulher que, dali por diante, seria sua mãe.

Julliete, sempre sozinha, acostumara-se a ouvir, todos as noites, um choro abafado de sua mãe. Não conseguia entender o porquê. A porta do quarto deles encontravam-se fechada, nesses momentos.

Julliete e sua mãe sorriam quando estavam a sós. Porém, bastava que o homem que a adotara chegasse para que os sorrisos cessassem. Passara a ter medo dele. Começara a entender porque sua mãe chorava quase todas as noites, orando pela casa, vestindo uma camisola longa, preta.

Julliete a seguia sem que ela o soubesse. 

Sua mãe não era tão doce quanto ela havia sonhado, mas estava sempre ao seu lado. Sempre com aquele olhar triste...distante.

Aquele homem, por quem a mãe de Julliete parecia ser apaixonada, era ríspido, bruto, alcoólatra. Não conversava. Apenas ordenava. Julliete não se lembra de momento algum onde tenha sido abraçada por ele. Onde tenha recebido um apoio ou uma palavra amiga dele. 

Lembrava-se sempre de ouvir: "Você não tem futuro, menina!".



O tempo passara e Julliete crescera, vendo sua mãe definhar aos pés daquele homem que nunca a amara. Sua mãe sabia dos deslizes daquele homem e, ainda assim, continuava ao seu lado. Julliete não compreendia como o amor poderia ser assim.

Jurara jamais amar alguém a fim de evitar o sofrimento pelo qual sua mãe passara por todos os anos em que aqui estivera.

Apesar da idade avançada, aquele homem não aprendia a viver...a respeitar a Lei da Vida que nos ensina a fazer ao próximo somente o que gostaríamos de receber.

Ele já não mais escondia seus impulsos lascivos, repulsivos. Passara a beber com mais frequência e a tratar Julliete e sua mãe com maior desprezo e raiva.

Julliete adorava estudar. Vibrara quando conseguira uma vaga em uma universidade federal, mas fora impedida de estudar porque - aos olhos sujos daquele homem - ela passaria a ter um comportamento reprovável.

Julliete perdera a primeira de muitas chances que lhe foram oferecidas por conta dos pensamentos podres, sórdidos, fétidos daquele homem.

"Você poderia ser garota de programa. Isso dá dinheiro, sabia!?". Julliete ouvira isso ser vomitado da boca daquele homem repugnante que pensava que todos se igualavam a ele, moralmente.

Que pai falaria isso a uma filha se a amasse realmente? Julliete, em silêncio, repetira o ritual que sua mãe lhe ensinara, ainda que sem querer: chorava, orando ao Pai que algo de bom acontecesse.

Após anos de sofrimento - e envelhecimento precoce - sua mãezinha adoecera de tristeza que afetara seu corpo, já esquálido, quase sem vida.

Aquele homem sugara a vida de sua mãe, sua única companheira, ao esfregar-lhe no rosto suas amantes tão nocivas quanto ele.

Quando Julliete tentava intervir para que isso não mais acontecesse, sentia o peso da mão daquele homem em seu rosto.

Adoecera por ter de pedir à Julliete que o trouxesse de volta a casa, buscando-o em bares onde o odor de álcool e urina se misturavam ao ar que respirava. Lembrava-se de ver os olhares daqueles homens, bêbados, ao seu redor e do nojo que aquilo lhe causava. 

Julliete vira sua mãe partir, consumida pela paixão que tivera por aquele homem, tentando manter um sorriso em seu rostinho magro, cadavérico. Em pensamento, Julliete sabia-o culpado por isso. Considerava-o um assassino inconsciente.

Julliete sentia mais dó do que qualquer outro sentimento negativo por aquele homem que jamais soubera ser o que - aos 8 anos de idade - pensara ter encontrado: um Pai.

Julliete, hoje, voltara a ser órfã. Caminha sozinha, tentando mostrar ao seu filho que um dia ele terá um exemplo de um bom pai a seguir.

"Um dia tu serás o pai que eu jamais tivera. Que jamais encontrara para te mostrar, filho". 


09/08/2015 - 13h31m

domingo, 2 de agosto de 2015

Il Divo - Mama

Memórias Póstumas de Alguém.

Costumo ouvir de muitos que devo viver a vida. Esquecer os problemas. 
Costumo ouvir de muitos que "gosto" de viver triste...na solidão.
Não costumo dar respostas à altura, pois, aqueles que me falam isso não têm por obrigação conhecer o início...o início do meu caminho de provas nesse Planeta.

Aos 36 anos, fora jogada aos leões, famintos por carne fresca. Começara a entender os termos: Lei do Retorno, Causa e efeito, Dias difíceis, Inferno na Terra, Sobrevivência.

Temos o que merecemos. Alguns preferem amenizar a frase dizendo: "temos aquilo de que necessitamos".
É a mesma coisa. Dá no mesmo. A dor é a mesma. A compreensão é o que ameniza a dor...um pouco.

Fácil dizer: "sorria!" Nesses momentos, fico pensando se quem proferira - com boas intenções - essa frase, saberia o que é ter em seu cérebro as lembranças de meu primeiro estupro aos 6 anos de idade. Pergunto-me se essa pessoa saberia o que uma criança sente ao ver seus pais, ao lado da sala onde ela estaria sendo molestada, sem entender o que aquilo significaria, conversando, tranquilamente, rindo em meio a uma festa. Onde eles estariam?

Essa questão não morre nunca. Apesar de esforços contínuos durante 40 longos anos.

"Pense positivo!" Quantas e quantas vezes ouvira essa afirmativa. Ainda que com boas intenções, tais palavras machucam alguém que já bastante ferida por dentro, tem de aceitar o fato de vários abandonos durante a vida, sem motivo aparente (Lei da Encarnação explica), e continuar a sobreviver sorrindo, pois, alguém, inocente nesta vida, está ao seu lado, dependendo de sua força para seguir adiante.



"Saia para encontrar seus amigos!" também ouvida por mim, com frequência, soa aos meus ouvidos como um insulto. Tentara ter amigos, mas sempre me vira sozinha em meio às festas e comemorações. Estranho. Não me encaixava em lugar algum. Por vezes, ouvira boatos a meu respeito. Não entendem que respeito é o que mais tenho pelo meu próximo.

Dois estupros resultaram dessa "busca por amigos". Ainda ouvira alguém dizer que fora por minha culpa. Devo continuar a busca? Acho que  não.

Família destruída por um déspota, agora totalmente manipulado por forças malígnas, entregue às orgias e ao alcoolismo. Lembro-me de resgatá-lo em bares, aos 7 anos de idade, por ordem de minha mãe.

Minha mãe. Evitarei falar de seus erros que já foram - verdadeiramente - perdoados, pois, ainda se encontra em um local de descanso e refazimento. Em plena Evolução. Não seria justo enviar-lhe energias deletérias nesse momento.

Prefiro lembrar dos banhos...ah! os banhos.

Sofrera muito, minha mãe. Agora está bem. Quase pronta para o trabalho, né Mãe!?

Não falem de mim. Orem por mim.

Descobrira que não me amam. Aquele que tanto amo não me ama. Tem suas razões. Mas...dói!!!

O problema é que não me ensinaram a Viver. Aprendera a sobreviver, o que é extremamente desagradável.

Lutar por se manter intacta e forte o tempo todo é desgastante. Lutar por pagar as contas ao fim do mês sem ajuda (coerente) de quem deveria "olhar" por aquele a quem amo e por quem não sou amada.

Lutar a fim de se levantar a cada queda, e não são poucas, todos os dias de minha vida dói. Mas, o que mais dói, é ouvir que eu deveria pensar positivo porque o pensamento é vida.

Quem me conhece fora de casa sabe que sou sorrisos e gracejos. A alegria personificada. 

Jamais levara tristeza aos lares por onde passo. Ao menos, tento a todo custo não levar.

"Só eu sei o que é morrer de sede em frente ao mar" define uma fase de minha vida onde tivera de vencer os assédios de homens casados que me ofereciam "vida fácil" em troca do que não tem preço. Ainda assim, preferira Sobreviver a VIVER INTENSAMENTE. 

De que adianta VIVER INTENSAMENTE e não conseguir DORMIR TRANQUILAMENTE. 

Junte os ingredientes acima ao convívio contínuo com o Outro Mundo que vem aumentando dia após dia. Não. Não são somente os bonitos, alados. "Os outros", aqueles que estão mais distantes da Evolução, também desejam que eu VIVA INTENSAMENTE. Eles têm um propósito diferente dos que estão encarnados e que desejam o meu bem. Ter de viver entre dois mundo está ficando pesado demais. 

Não estaria se minha vida fosse DOLCE. Mas..não é.

Não ter um companheiro é uma opção. Ficar sozinha, sem um abraço amigo é uma decepção. Onde estão aqueles que gostavam de mim e de quem tanto gosto ainda?

Existem Forças que, vez por outra, afastam de mim, pessoas que me são caras. Para quê? Só Ele sabe.

Estou indo embora...aos poucos. Lembrara-me da música de Roberto que dizia "nunca se esqueça nenhum segundo que eu tenho o amor maior do mundo. Como é grande o meu amor por você"


"Amor que não se pede. Amor que não se mede. Que não se repete". É esse o meu Amor por você.

Perdão pelos erros que cometera. Foram por amar demais. Não me ensinaram a amar, filho. Perdão.

Dizem que sou louca, mas não entendem que preciso de "ouvidos que ouçam". Não sabem que minha única loucura é não cometer erros e, por isso, acabo errando. Acham engraçado achar graça de mim. Deixo que riam. Penso que não ririam se tivessem um turbilhão de pensamentos, tristezas, traumas dentro de suas mentes. Eles não sabem o que fazem, como diria o Mestre.

Preciso de tratamento...não vou aguentar por muito tempo.

02/08/2015 - 12:53