"Entre dois Mundos"

"Entre dois Mundos"

terça-feira, 2 de julho de 2013

A Queda do Tirano

Fora duro para "o pequeno soldado" assistir à queda do Tirano.  Fora duro para os dois últimos "soldados" que resistiram à batalha de quase meio século, encarar aquele ser egoísta, frio e calculista.

Mais de 40 anos expostos naquela távola onde reuníram-se todos: "soldados", "aquela que nunca fora amada" e o "Tirano".

Gritos, injúrias, ofensas, confissões grotescas foram despejadas sobre o local onde - outrora - a família que jamais conhecera a felicidade, alimentava-se.

Houve lágrimas abundantes. Lágrimas que jorraram dos olhos estupefactos do "Tirano" e desesperançosos dos "soldados" que viam - pela primeira vez - a verdadeira e cruel face do verdugo sem escrúpulos que assumira, sorrindo, ser um traidor, um desleal, um oportunista.

Seu grande ato final fora abandonar "aquela que nunca fora amada" (e sempre traída) para chafurdar-se nos braços enlameados da amante que em breve terá um fim mais trágico do que o dele.  A amante - que também não é amada - padece de uma doença cruel, degenerativa, sem cura.  Provavelmente, será abandonada pelo "Tirano" antes de esquecer-se de si mesma.

"Aquela que nunca fora amada", largada pelo homem de sua vida, não derramara uma só lágrima. Diante do" pequeno soldado" que possuía o estranho dom de enxergar "além da linha vermelha", "aquela que nunca fora amada" agigantara-se em seu trono com rodas de aço.

Renascera das cinzas tal qual a Fênix, a fim de brilhar como jamais o fizera nesta vida.

O que era sombra, tornara-se Luz. Luz Intensa!  Seu coração - antes negro como o piche - possuía, agora, o tom rosáceo da pele de um bebê.

Como uma alma pudera ter-se transformado, transmutado tão intensamente, em tão pouco tempo, no exílio onde estivera!?

Durante o período em que vivera entre Dois Mundos foram-lhe retirados o ódio, a mágoa,o rancor.

Mais parecia uma Rainha digna das Terras Médias! Sentada à mesa, não julgara, não apontara defeitos, não se queixara, não erguera sua voz que mantivera-se mansa, quase inaudível.

Lembrara-me uma anciã do clã do Elfos...

Quando em momentos de horror, ao encarar as Trevas que escorriam pela boca do "Tirano" e de seus "comparsas", o "pequeno soldado" buscava alívio no frescor daquela que deixara de ser citada como "aquela que nunca fora amada" para, dali por diante, ser reconhecida em toda a aldeia, condecorada "pelos que lá habitam",  como "A Dama de Luz".

Em seus olhos plácidos leem-se - agora -  o perdão. A paz tão desejada...tão esperada.

Seus olhos - agora - fitam o "tirano" caído como quem fita um doente que necessita de um forte remédio para a cura de uma doença que ainda levará anos para ser curada.

"A Dama de Luz" - agora - demonstra seu amor pelo "pequeno soldado"  como uma criança o faria por sua mãe.

O "pequeno soldado", feliz por vê-la curada espiritualmente, começara, aos 44 anos de existência, a amar aquela senhora franzina, de cabelos alvos e de coração rosado.


O "tirano caído", tenta - agora - retomar o caminho de volta à decência, à honestidade. Caído, tenta - agora - recuperar o amor dos "soldados". Porém, como receber algo que nunca fora doado?

O "pequeno soldado" não deseja voltar a vê-lo. Sua piedade por ele é tão intensa que não suportaria vê-lo na lama a erguer sua mão, em um desespero mudo, pois ainda é orgulhoso por demais.

O "pequeno soldado" chora todas as vezes em que se lembra "daqueles que nunca souberam o que é o amor".


02/07/2013 - 20h17m

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