"Entre dois Mundos"

"Entre dois Mundos"

sexta-feira, 14 de junho de 2013

O menino de lata - A caminho de Oz

Costumava ser um menino normal até bem pouco tempo. Seu corpo - normal - não apresentava anomalias. 

Possuía um corpo revestido por pele como a dos seres humanos comuns. Um sorriso encantador que fluía naturalmente, sem qualquer indício de malícia, sarcasmo.


Possuía o doce perfume dos que têm o coração cheio de sentimentos bons, como o amor, a doçura, a suavidade.

Assim como o homem de lata de Oz que, outrora, fora um lenhador, amaldiçoado pela Bruxa Má do Leste, fadado a cortar árvores a fim de guardar dinheiro para comprar uma casa onde moraria com sua amada e que perdia parte de seu corpo a cada machadada, chegando a perder seu coração, o que o impedira para sempre de voltar a amar sua prometida, o menino normal, ao completar seus 15 anos, tivera seu coração transformado em lata, deixando de amar, de sentir, de ter fé.

Sua antiga doçura fora substituída por ironia. Por silêncio devastador. Por distanciamento de uma menina desconhecida que passara a amá-lo em segredo, pois a cada demonstração de afeto por parte dela, parte do corpo dele transformava-se em lata.

Em desespero, a menina que não queria perdê-lo, vendo-o enferrujar a cada dia, fizera de tudo ao seu alcance para que ele retornasse ao seu estado normal.  Para que ele voltasse a ser um menino coberto por pele humana e com um coração que voltasse a bater fortemente como aquele que um dia o possuíra.  

Apelara para a bruxa Má do Leste para que o trouxesse de volta ao mundo dos normais. Porém, como todas (ou quase todas...) as bruxas, ela não possuía coração. Portanto, não conseguira entender o sofrimento daquela menina estranha que possuía a estranha mania de querer bem ao menino de lata que tanto pisava em seu coração.

A menina sabia que aquilo não poderia durar para sempre. Sendo uma maldição deveria ter um início, meio e fim.

Fora ao inferno conversar com Lúcifer, o Anjo Caído. Dissera-lhe que não poderia acreditar que ele fora banido do Céu por seu Pai. Um Pai justo que jamais baniria um filho Seu por errar.
Lúcifer, que possuía um coração, sentira dó daquela menina - estranha menina - que arriscara sua vida ao chegar ao Inferno sem saber se de lá retornaria, indicara-lhe o Caminho de Oz.  O único homem - mágico poderosíssimo - que poderia ajudar o menino - com o coração de pedra e o corpo de lata - a voltar a ser um menino normal, capaz de voltar a amar, sorrir, abraçar, ouvir sem tapar os ouvidos.

A pobre menina - cansada de tanto lutar contra tudo e contra todos, enfrentando outro momento terrível em sua vida - plúmbea vida - agarrara-se ao menino com o coração frio, quase de gelo, e o levara consigo, sem músicas ou danças.

Sem "Estrada de Tijolos Amarelos". Sem contar com a ajuda dos Munchkins - os habitantes de Oz - ou a de  Glinda - a Bruxa Boa do Norte.

Seguira sozinha, calada, pois assim determinara o menino já com o coração de gelo que - agora - desejara somente a solidão.  Solidão que a impedia de chegar perto daquele menino que há tempos atrás gargalhava ao seu lado. Que não a deixava em paz de tanto demonstrar seu carinho por ela.  Daquele menino que dormia - quando levado à escola na garupa da bicicleta encantada da menina - apertando-a pela cintura para não cair de tanto sono.

Lembrara-se - a menina - agora sozinha - do calor intenso que sentira naqueles bracinhos agarrados à sua cintura, por medo de cair ao chão.

Acordara daquela lembrança que aquecera-lhe o coração - coração de vidro - por alguns segundos e decidira encontrar-se com Oz e implorar-lhe um coração novo ao menino de lata, com o coração de gelo.

Dar-lhe-ia o que fosse exigido, desde que o menino voltasse a ser normal.  Voltasse a amar, a ter fé. Mesmo que não mais pudesse desfrutar de sua companhia. Mesmo que precisasse dar a sua própria vida em troca de um coração que fizesse o menino derreter as grossas camadas de água solidificada que acumularam-se em seu músculo involuntário sem que ela o percebesse.

15/06 - 01h23m

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