"Entre dois Mundos"

"Entre dois Mundos"

sábado, 4 de janeiro de 2014

E ele partira - Retrô 2013

Tentara escrever aqui todas as venturas (pouquíssimas) e desventuras do ano que passara.

Reduzira um texto onde contava a perda de meu melhor amigo - "Sr. Wilson" -companheiro inseparável por longos 9 anos. Sofrêramos juntos e vencêramos muitas batalhas que somente nós dois poderíamos conhecer.

Fora sem explicação. E a partir de então, começaram os grandes testes pelos quais venho passando.

Sem ter "muletas" nas quais me amparar, comprara um bike e fora trabalhar, contando com a boa vontade de muitos. Disposição física para ter de suportar mais de 24 km por dia, pedalando, não fora tão difícil quanto obter a disposição emocional que me abandonava - todos os dias - antes de voltar ao corpo, ao acordar.

Foram dias intensamente dolorosos, de uma dor silenciosa, pois, aprendera com a vida, que não podemos demonstrar tristeza, pois seremos excluídos. Não podemos demonstrar alegria, pois seremos repreendidos.

Sob o sol, a chuva, o vento, o frio, seguira meu caminho a pedalar por lugares perigosos, com minha mochila inseparável, em minhas costas já bem pesadas pelos momentos pelos quais fora obrigada a passar.

Houve momentos em que - frações de segundos - sob o sereno e frio da noite, pudera sentir a felicidade tocando meu rosto. Ouvindo sempre música - e o que seria de mim sem ela - deixava-me conduzir com um sorriso no rosto por não desistir jamais.

Soubera-me forte, mas a vontade de estar em outro mundo que não esse não me abandonara um só dia nesse ano que findara.

Graças à generosidade de corações aos quais me vinculara pelo resto de minha vida, recebera um novo carro: "Sweet Jane". Adoro essa música!

Clique aqui para ouvir a música!

http://youtu.be/x4XVJj4jER4

Lembra-me a história de um viciada que tivera um homem ao seu lado - um apoio, uma muleta - que a retirara daquele mundo. Como eu gostaria de me apoiar em alguém em algum minuto dessa vida - estranha e dura vida - que ora vivo.


Vieram as tempestades: uma tentativa de roubo do segundo carro; uma queda brutal da  bike que deixara sequelas em meu braço esquerdo até hoje; a surra que levara do ser sem entranhas que me pusera nesse mundo; a doença, sofrimento, humilhação, desespero e morte "daquela que nunca fora amada".

Ainda, em seu leito de morte, pudera ouvir sua sentença fatal. Ali, naquele momento, olhara em seus olhos desesperados e quisera dizer-lhe que 1/3 não seria capaz de salvar-lhe a vida. E não o fora...

Sepultara minha mãe. Sofrera com a dor exposta através da raiva vinda do "homem que mais amo no mundo".

Vibrara - ainda que por pouco tempo - com sua alegria por ter  alcançado o inimaginável. Vira sua força, sua garra, sua autoconfiança voltarem aos poucos. Mas, como a "alegria alheia incomoda", voltara a sofrer com o seu sofrimento, sua depressão e seus ataques compreensíveis por estar em "ebulição".

Procurara, desesperadamente, por um profissional que o ajudasse a não herdar de mim o gene da doença que me corrói por dentro há mais de 15 anos.

Só encontrara a frieza de quem um dia se preocupara com ele...comigo.

Ver um filho sofrer é ter mil facas cravadas em seu peito, lentamente.

Ouvira de quem deveria me fortalecer que sou alcoólatra por tomar vinho à noite. Segundo a mesma, os italianos o tomam durante o almoço todos os dias, como sendo um hábito salutar. Educada por natureza, ouvira aquela explanação sem ver sentido na mesma, visto que quase todos almoçam todos os dias, logo, beber ao almoço não me tornaria uma dependente do álcool, mas, durante à noite, em casa, sim.

Até hoje tento entender esse paradoxo.

Completara sua "ajuda", dizendo-me que NÃO sou depressiva. "Quem já não passara por momentos tristes durante essa vida, nesse planeta?". Calada ouvira. Calada permanecera.

Tivera o desprazer de encontrar homens que ratificaram meu nojo por essa espécie: o elitista, o soberbo, o homem sem coração, o preconceituoso, o arrogante, o covarde, o psicopata, o oportunista e o "homem mau".  Quero-os longe de mim...para sempre.

Constatara que laços sanguíneos não são sinônimos de amor, amizade, lealdade.

Tivera - e ainda tenho - vergonha daquilo que me tornara. Daquela que - por pior que seja - me dá vida. Daquela que faz com que meu pulso ainda pulse.

Vira - estarrecida - no último dia do ano uma cena degradante protagonizada pelos amantes sem escrúpulos, mergulhados, literalmente, na "lama" do prazer imundo que não enxerga o respeito aos que já se foram, recentemente. Outra cena que jamais sairá de minha mente já conturbada por tantas outras.

Nesse mesmo dia, "aquele que mais amo no mundo" - ainda que sem saber o que fazia - cravara uma faca afiada com palavras duras em meu coração. Chorara sem saber o que fazer e, por isso, fora chamada de fraca. Ficara ainda mais sozinha no último dia do ano do que o ficara em todos os 364 dias anteriores, tendo ideias estranhas.

Acreditando que algo ou "Alguém" tocara-lhe o coraçãozinho, vira-o desesperado, de volta ao lar, tão somente para saber se eu ainda estaria viva. Preocupara-se comigo. Demonstrara por mim o amor que lhe implorara o ano inteiro.



Abraçara-me com tanto carinho! Olhara-me nos olhos como sempre o desejara. Só pudera dizer-lhe, aos prantos: "Filho, você me ama, né?".

Voltara à casa de sua avó paterna, junto ao pai e à sua nova esposa (e realmente notara o quão preocupados estariam com o meu estado) e fizera questão de trazer-me uma marmitinha com pedaços de peru, farofa e arroz.

"Mãe, você não comeu nada!?" (...)

Dissera-lhe que não havia comido por estar só. E quando se está só, a fome, em meu caso, não me alcança.

Mas, daquela marmitinha, cheia de amor de todos os que a prepararam (inclusive de sua avó paterna) eu comera com satisfação! Nunca uma comida tivera um sabor tão especial quanto o daquela. Havia nela um ingrediente especial: o carinho que esperara por tanto tempo daquele que estivera ausente, ainda que presente fisicamente, em nossa casa. Do "homem que mais amo no mundo".



04/01/2014 - 21h36m



4 comentários:

  1. Seu texto me comoveu muito, espero que daqui pra frente seja diferente. Não sei em que livro foi que vi certa vez um texto, " As mulheres são seres superiores, se não fossem não dariam a luz, elas suportam qualquer coisa, tratam dos doentes como se fosse seu próprio filho, são inteligentes a ponto de mostrar o caminho a seguir para seus filhos." na verdade ainda desconfio que foi o homem que saiu da costela da EVA, Espero que este ano seja o seu ano de realizações e muitas alegrias .bjos Ps.(este texto é só meu, sem ajuda)

    ResponderExcluir
  2. Lindo, Carlos! E parabéns pelo "seu" texto!

    ResponderExcluir